Morte de adolescente enquanto tirava manga no PR: inquérito detalha participação de quatro seguranças no assassinato da vítima
24/02/2025
(Foto: Reprodução) Luís Fernando Chiarentin, de 14 anos, foi morto no fim de 2024 em Medianeira. Para Polícia Civil, suspeitos 'atuaram em comunhão de vontades para a prática dos crimes'. Inquérito detalha participação de seguranças em homicídio
O inquérito policial que apurou a morte do adolescente Luís Fernando Chiarentin, de 14 anos, detalha a participação de cada um dos quatro seguranças agora indiciados pela Polícia Civil (PC-PR) como autores do crime, registrado em 27 dezembro de 2024 em Medianeira, oeste do Paraná. Veja mais abaixo.
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Na data, segundo a polícia, Luís e outros dois amigos colhiam mangas em um pé quando foram surpreendidos pelos quatro suspeitos, um deles armado, que os impediu de sair do local. Na sequência, as vítimas foram agredidas com uso de um bastão.
Ainda segundo a polícia, um dos adolescentes conseguiu fugir, já Luís e o outro amigo foram atingidos pelos golpes.
Luís Fernando Chiarentin tinha 14 anos e foi morto no Paraná
Arquivo pessoal
Os quatro seguranças indiciados pelo crime, são:
Josemar Ribeiro;
Jonatan Cremonezi Gomes dos Santos;
Gustavo Alves Rodrigues;
Adlas Alisson Rodrigues Paula.
Adras, Gustavo, Jonatan e Josemar (da esquerda para a direita) são suspeitos de matar adolescente de 14 anos no Paraná
Polícia Civil/PR
Josemar foi preso em Santa Catarina no último dia 13 de fevereiro. Os outros três estão foragidos.
Denúncias podem ser feitas de forma anônima pelos telefones 197 da PCPR, 181 do Disque-Denúncia ou (45) 3264-2324 (Whatsapp) diretamente à equipe de investigação.
A seguir o g1 lista o que apontou a Polícia Civil do Paraná sobre a motivação e planejamento do crime, participação de cada um deles na morte de Luís e por quais crimes cada um deverá responder.
Planejamento e motivação do crime, segundo a Polícia Civil
Participação de cada um dos quatro suspeitos no crime, segundo inquérito
Por quais crimes eles devem responder?
O que dizem as defesas dos suspeitos?
1. Motivação e planejamento do crime, segundo a Polícia Civil
De acordo com a Polícia Civil, os quatro seguranças planejaram o crime motivados por "supostos atos de vandalismo atribuídos às vítimas em ocasiões anteriores na prefeitura municipal de Medianeira".
A polícia não detalhou quais teriam sido as ações dos adolescente e descartou que o crime tenha ligação com fato do adolescente e os dois amigos estarem tirando frutas em terreno particular.
Segundo o inquérito, o suspeitos iniciaram conversas em um grupo de WhatsApp, onde Jonatan, o suspeito preso, sugeriu "dar um susto" nas vítimas.
Em depoimento, antes de serem expedidos os mandados de prisão contra os seguranças, Gustavo, outro suspeito, revelou à polícia que "intenção era apenas intimidar e coagir os adolescentes, conduzindo-os a um local isolado para ameaças verbais, sem qualquer objetivo de causar morte", diz trecho do inquérito.
Para a polícia, no entanto, o entendimento é que o local do crime foi escolhido estrategicamente, por ser pouco iluminado, apontando que os quatro suspeitos agiram de forma "coordenada e premeditada", cercando os adolescentes e impedindo que eles fugissem.
O exame de necrópsia constatou que Luís morreu decorrência de trauma de tórax e traumatismo cranioencefálico grave, causados pelas múltiplas agressões sofridas.
A advogada Gabriela Ben, que atua para a família de Luís, informou que solicitará à Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) apoio para a captura dos foragidos por meio de rastreamento digital, e também da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), pela suspeita de que os foragidos possam ter fugido para o Paraguai.
“Este crime não vitimou apenas uma criança, mas duas, e atenta contra a esperança de um mundo melhor, um impacto que nunca se extingue”, sinalizou a advogada em nota.
Relembre o caso:
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2. Participação de cada um dos quatro suspeitos no crime, segundo inquérito
No inquérito, concluído no início deste mês, a polícia menciona que o interrogatório de Gustavo "foi de extrema importância para entender a dinâmica dos fatos".
Na sequência, o documento destaca qual foi a participação de cada um dos suspeitos no crime. Veja a seguir o que diz o inquérito:
Jonatan Cremonezi Gomes dos Santos: foi o líder e mentor das agressões, articulando os detalhes da ação e desferindo os golpes fatais em Luís Fernando com o bastão "P90", também utilizado para agredir a outra vítima;
Josemar Ribeiro: foi o motorista do veículo utilizado no crime e participou ativamente das agressões, agindo com violência contra [nome da outra vítima] e colaborando para a fuga do grupo após o crime. Seu comportamento evasivo e a confissão informal à esposa reforçam sua participação;
Gustavo Alves Rodrigues: embora tenha tentado minimizar sua participação, admitiu estar no local, participar da contenção das vítimas e ser omisso diante das agressões fatais. Também contribuiu para a logística do crime, atuando como auxiliar nas ações do grupo;
Adlas Alísson Rodrigues Paula: monitorou as vítimas por meio de câmeras de vigilância e participou da ação dando suporte para os demais. Ainda, no local, manteve as vítimas sob a mira de arma de fogo para garantir que não fugissem, conforme as imagens das câmeras de monitoramento, que mostram o momento em que Adlas desce do veículo na posse de uma arma de fogo.
"Embora Adlas, Josemar e Gustavo tenham percebido o excesso de Jonatan durante as agressões, não fizeram qualquer esforço para detê-lo, permitindo que ele continuasse a desferir os golpes fatais em Luís Fernando. A omissão dos demais investigados demonstra conivência e contribuiu decisivamente para a consumação dos delitos", diz outro trecho do documento.
Segundo a investigação, após o crime, os quatro suspeitos, agora indiciados, "adotaram medidas para ocultar suas ações", como a destruição de evidências e o apagamento de mensagens no grupo de WhatsApp utilizado no planejamento.
Sobre o uso de câmeras de monitoramento da Prefeitura de Medianeira, em especial por Adlas, que comunicou aos demais colegas sobre a localização das vítima na data do crime, a administração municipal emitiu nota afirmando que tem contribuindo com as investigações.
A nota diz ainda que o município não foi informado sobre nenhum uso irregular da Central de Monitoramento e que não foi informado formalmente sobre a autoria ou identificação dos suspeitos.
O g1 questionou a administração municipal se a empresa terceirizada continua prestando serviço à cidade e se foi aberta alguma apuração interna sobre o caso, porém a prefeitura não respondeu aos questionamentos.
3. Por quais crimes eles devem responder?
A conclusão do inquérito indiciou os quatro seguranças por homicídio qualificado - emboscada, motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima - e também por tentativa de homicídio contra o outro adolescente.
Adlas também foi indiciado por ameaça ao impedir que os menores fugissem, apontando arma de fogo contra eles.
4. O que dizem as defesas dos suspeitos?
Em nota, o advogado Leandro Chibiaqui, que atua na defesa de Josemar, informou que no dia 13 deste mês o suspeito passava por Santa Catarina e se dirigia ao Paraná para se apresentar com o advogado na Polícia Civil de Medianeira, porém o carro dele foi parado e por estar foragido, acabou preso.
A defesa informou ainda que devido a "preocupação da defesa com a sua integridade física" que encaminhou um pedido ao juízo da comarca de Medianeira e de Concórdia para que mantenha Josemar preso no estado de Santa Catarina e que o mesmo possa ser ouvido por videoconferência.
"Confiamos no trabalho da Justiça e reafirmamos o compromisso com a elucidação dos fatos", finaliza nota.
O g1 tenta identificar a defesa dos outros três indiciados.
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